Como trabalhar a seletividade alimentar no autismo?

Como trabalhar a seletividade alimentar no autismo?
Paulinha Psico Infantil

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Olá, sou a Paulinha, psicóloga infantil com foco em transtornos do neurodesenvolvimento. Crio conteúdos na internet desde 2015 e ajudo milhares de mães e outras profissionais da área todos os dias aqui e em minhas redes sociais.

Provavelmente você conhece alguma criança que escolhe muito o que vai comer: ou se recusa a comer vários tipos de alimentos, ou apenas uma categoria (como legumes, por exemplo), e por aí vai. Ainda que seja comum em grande parte das crianças, a seletividade alimentar no autismo pode ser um caso bem mais complicado. Por isso, vamos entender um pouco o que é esse quadro e como lidar melhor com ele. 

O que é seletividade alimentar?

Um problema comum, que acontece com cerca de 25% das crianças na primeira infância, mas que, no caso das crianças com TEA, pode ser bem mais complexo. A seletividade alimentar pode acontecer com a recusa por certos tipos de alimento, o baixo repertório alimentar (não aceitar comidas que nunca provou) e até a preferência por comer apenas uma coisa com muita frequência. 

A seletividade alimentar no autismo não é diferente disso, mas se apresenta de maneira mais intensa. Um artigo de 2010 cita vários estudos que apontam um percentual alto de crianças autistas que se recusam ou relutam em comer novos alimentos e não têm muita diversidade no que comem (um deles apontou que 59% das 17 crianças envolvidas na pesquisa comiam menos do que 20 alimentos diferentes). Mas por que será que isso acontece mais no autismo?

Um problema sensorial ou comportamental?

Um problema sensorial ou comportamental?

As crianças com TEA podem apresentar uma hiper resposta sensorial, que é aquela situação bastante comum em pessoas autistas em relação aos estímulos do ambiente: fazendo com que os estímulos sensoriais como barulhos, luzes e até conversas sejam sentidos de maneira muito mais intensa e exaustiva para as pessoas no espectro. Muitos acreditam que essa sensibilidade pode ser a responsável pela seletividade alimentar no autismo

É até por essa razão que alguns locais instituíram uma hora exclusiva para pessoas autistas em seus estabelecimentos, com menos luz, menos gente, menos barulho. Assim como sessões de cinema para crianças autistas, volume mais baixo, sala não tão escura, sempre pensando em suas questões sensoriais.

Por outro lado, outra característica comum do TEA são os rituais e a rigidez cognitiva, que geram dificuldade para começar coisas novas e mudar aquilo que já fazem. Essa característica também é apontada como possível causa da seletividade alimentar no autismo. 

A verdade é que não existe uma resposta definitiva e, provavelmente, as duas coisas têm participação nesse quadro. O mesmo estudo mencionado anteriormente menciona uma pesquisa onde os pais das crianças com autismo afirmaram que, na maioria dos casos (69%), a textura dos alimentos influenciava na recusa ou aceitação da criança pelos alimentos. Esse dado aponta para uma possível predominância da sensibilidade sensorial como responsável pela grande seletividade alimentar no autismo

Muitas comorbidades do TEA também podem estar envolvidas nessa seletividade, como um possível TOC ou até mesmo uma fobia que pode ter surgido devido a alguma experiência ruim com aquele alimento no passado. 

Problema comum

É importante ressaltar que, como vimos, a seletividade alimentar não é um problema exclusivo do autismo. Várias crianças, principalmente na primeira infância, apresentam esse quadro que pode prejudicar a saúde e o bem-estar do pequeno, já que pode ocorrer um déficit nutricional. Por isso, as estratégias para lidar com a seletividade alimentar no autismo servem para todos os pais, cuidadores e profissionais que lidam com crianças. 

Além disso, também é importante ficar atento ao fato de que a seletividade alimentar em crianças neurotípicas dura apenas durante os primeiros anos de vida. Quando perdura por muitos anos, pode ser um sinal de que existe outra coisa acontecendo. Afinal, cerca de 80% das crianças com algum atraso de desenvolvimento apresentam seletividade alimentar.* 

*Cermak, S. A., Curtin, C., & Bandini, L. G. (2010). Food selectivity and sensory sensitivity in children with autism spectrum disorders. Journal of the American Dietetic Association, 110(2), 238–246. http://doi.org/10.1016/j.jada.2009.10.032.

Estratégias para ajudar com a seletividade alimentar no autismo

Estratégias para ajudar com a seletividade alimentar no autismo

Assim como todos os problemas relacionados ao autismo, o tratamento para a seletividade alimentar pode ser mais efetivo quando a intervenção começa mais cedo. Isso porque quanto mais tempo a criança se acostumar em comer somente aqueles alimentos e negar outros, mais difícil vai ser mudar esses hábitos. Tendo isso em mente, existe uma série de estratégias que podem de fato mudar a maneira como a criança lida com a comida. 

Estratégia das mordidinhas dos animais

A nutricionista Milene Henriques, em seu perfil no Instagram, deu a ideia de uma pequena brincadeira que os pais ou cuidadores podem fazer com a criança para que ela se alimente melhor. É a estratégia das mordidinhas: 

  • Primeiro, peça para a criança dar apenas uma mordidinha de rato no alimento que ela se recusa a comer. Isso pode dar maior segurança e tranquilidade para a criança, já que ninguém está pedindo que coma o alimento todo; 

  • Depois, você pode pedir que ela dê uma mordidinha de passarinho, que ainda é bem pequena, mas já pega um pedacinho maior do alimento; 
  • Então você pode emendar uma brincadeira e perguntar se a criança consegue dar uma mordida de gato enquanto imita o animal comendo. A brincadeira pode incentivar e motivar a criança, e você pode até participar para deixar mais divertido;
  • Depois que ela imitou um gato, agora é a vez do cachorro. A mordida já é bem maior, mas você pode disfarçar com uma imitação divertida e até latidos para levar a criança a querer brincar; 
  • Por fim, a criança já consegue dar grandes mordidas e você pode perguntar se ela consegue encher a boca com um mordidão de cavalo

Dessa forma você tem uma criança se aproximando de forma lenta, lúdica e progressiva do alimento e de dar a chance de provar um novo alimento. Em algumas situações iremos parar na mordida de passarinho, outras na do gato… lembre que é um processo!

Estratégia da aproximação gradual

(foto retirada de um post de @nopratotemafeto – talita trombini) 

Em sua conta no Instagram, a psicóloga Talita Trombini deu a dica que está representada na imagem: aos poucos, bem gradualmente, você pode adicionar novos alimentos junto dos alimentos que a criança já come. Além do caso do macarrão, é possível fazer isso também disfarçando os alimentos com preparos que os deixem diferentes da aparência normal e, então, misturar com uma comida que a criança goste, sempre de forma lenta, progressiva e gradual. Não pode forçar ela a comer, e nem mudar tudo de uma hora para outra, entenda que ela precisa do processo da mudança para ir aceitando outro alimento parecido, mas não idêntico.

Não deixe de aprender

Existem ainda muitas outras dicas que podem ajudar a lidar com a seletividade alimentar no autismo, inclusive muitas que são importantes também para crianças neurotípicas, como por exemplo a rotina bem definida e não utilizar aparelhos eletrônicos durante as refeições. Por isso, leia bastante para poder lidar com o pequeno da melhor maneira possível. No nosso blog tem muito conteúdo informativo que pode ajudar. Me siga também no Instagram e no TikTok e não deixe de conferir meu canal no YouTube, que está cheio de material rico em informações, estratégias e dicas!

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