A trajetória dos pais de autistas se inicia logo nas primeiras interações com o bebê. Assim que determinados traços se tornam perceptíveis durante o contato diário a procura por profissionais para realizar o diagnóstico faz-se uma prioridade. Porém, nem todas as características de um bebê que fogem do padrão de conhecimento dos pais ou daquilo a que estão acostumados a ver em crianças daquela faixa etária são, necessariamente, “sintomas de autismo”.
O processo diagnóstico não se assemelha a um exame médico, ao contrário do que é comumente esperado, ele é extremamente subjetivo, e requer profissionais da psicologia devidamente qualificados para atestar a presença do Transtorno do Espectro Autista. Enquanto um transtorno do neurodesenvolvimento, ele se manifesta através de déficits em grandes áreas do desenvolvimento neurológico padrão que serão atenciosamente analisadas pelo psicoterapeuta, no caso do TEA elas são a comunicação, a interação social e os padrões de comportamento, que são restritos e repetitivos.
O diagnóstico é muito importante para os pais de autistas
Para os pais de autistas, o diagnóstico da criança é particularmente importante. É a porta de entrada para que o pequeno receba as intervenções e o suporte adequados para as suas necessidades, e não deve ser lido como um estigma. Ele permite que a família receba informações importantes, com amplo respaldo científico e com base na realidade da criança, assim como permite que os pais tenham acesso a recursos e serviços que irão ajudá-los a fornecer a qualidade de vida que estão buscando.
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Um diagnóstico preciso ajuda, também, a eliminar outras possíveis explicações para os sintomas que levam a intervenções inadequadas que possam vir a causar situações prejudiciais para o desenvolvimento do paciente.
Como foi dito anteriormente, o diagnóstico de autismo não envolve exames, mas sim o que nós chamamos de avaliações neuropsicológicas que são realizadas durante a observação clínica. Os exames médicos são voltados para averiguações para descartar a possibilidade de patologias ou condições físicas não relacionadas ao autismo, mas que causam sintomas semelhantes como ausência da fala ou não responder ao ser chamado, por exemplo.
A psicologia conta com um amplo leque de avaliações neuropsicológicas que podem ser aplicadas para auxiliar no fechamento de um diagnóstico de autismo. O importante é que o profissional possa identificar as áreas contempladas pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, ou DSM – 5.
Diagnósticos que se confundem!
Acontece que os sinais frequentemente relatados pelos pais de autistas, podem estar presentes em outros transtornos como TDAH ou TOC, ou apenas serem características da personalidade da criança, que gosta de organizar os próprios brinquedos ou simplesmente não gosta de determinados alimentos, sons e cheiros.
Eu gosto de relembrar aos pais de autistas que cada criança é única, e que os padrões reforçados pela mídia e as generalizações comumente associadas aos pequenos que convivem com o TEA não necessariamente se aplicam aos seus filhos e filhas, e não são uma regra, nem um parâmetro diagnóstico. O processo de descoberta é conjunto, da família, da criança, e também do terapeuta, para que possamos, conjuntamente, oferecer as melhores opções.
O que fazer depois do diagnóstico?
O primeiro passo para os pais de autistas é identificar, juntamente ao psicoterapeuta, o nível de autismo da criança. A diferenciação serve para compreendermos qual o nível de suporte necessário. No nível um está a criança que precisa de pouco, ou nenhum, suporte nas áreas social, de comunicação e de padrões de comportamento. Se mais suporte nestas mesmas áreas for necessário, ela se encontra no nível dois. Já o nível três, diferentemente dos dois anteriores, amplo suporte nas duas grandes áreas se faz necessário.
Mesmo que nenhum autista seja igual, e que cada criança seja portadora de individualidade e uma personalidade única, existem alguns fenômenos comuns ao Transtorno do Espectro Autista que os pais de autistas podem relatar ao terapeuta para um atendimento mais particularizado e contextualizado. Assim como podem receber orientações que irão promover um desenvolvimento pleno e saudável. Abaixo irei explicar como abordá-los individualmente para melhores detalhes.
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Seletividade alimentar:
Este é um problema que acomete, aproximadamente, 25% das crianças e se apresenta como a recusa de certos alimentos, baixo repertório alimentar ou restrição a um único prato. Em crianças com autismo a seletividade alimentar ocorre, não apenas, mas conjuntamente em função da hiper resposta sensorial, fazendo com que o ambiente tenha grande influência no momento de alimentação, além das respostas neurais à textura dos alimentos.
Rigidez cognitiva:
A rigidez cognitiva tem, inclusive, participação na seletividade alimentar dos pacientes com autismo e se manifesta na recusa por novos alimentos. É um aspecto cognitivo responsável pelo apego à rotina, comportamentos repetitivos, interesses obsessivos, entre outras práticas que demonstram baixa adaptabilidade e déficit nas habilidades relacionadas à mudanças.
Estereotipias:
Estereotipia é o nome dado às repetições motoras e comportamentais usadas como artifício para a autorregulação emocional. Esfregar as mãos quando se está feliz, bater palmas quando há muito barulho, balançar-se quando está triste, são exemplos. Os pais de autistas devem estar atentos para o fato de que podem haver padrões negativos e prejudiciais para a criança e se sentir livres para trazer suas preocupações para à equipe que presta atendimento.
Transtornos de fala:
As dificuldades para se comunicar variam entre pacientes, e não são iguais para todas as pessoas dentro do espectro. O quão confortável e habituada a criança está ao ambiente, pode também interferir na forma como se dá a sua comunicação, assim como o quão familiarizada ela está com a pessoa, ou as pessoas, presentes. Podem haver dificuldades para iniciar ou participar de conversas, mutismo seletivo, atrasos no desenvolvimento da fala, limitação de vocabulário, etc.
CUIDADO com os Fake News e autismo?
Por mais estranho que pareça, a desinformação pode atingir, também, os pais de autistas. É por isso que acho importante desmistificar algumas informações que são divulgadas para atingir familiares ainda em processo de descoberta.
A primeira é que o autismo não pode ser adquirido, e existem pesquisas que comprovam além da predisposição genética, o fato de que as pessoas já nascem com o transtorno. A segunda é que o autismo virtual, que seria hipoteticamente causado pelo uso excessivo de telas, não existe.
A terceira informação que devemos observar é a promessa de cura, esta ainda carrega em si e alimenta a ideia errada de que o autismo seria uma doença a ser tratada ou curada, um pensamento que pode crescer e prejudicar a forma como tratamos os nossos pequenos dentro do espectro, que precisam sim, de terapias e apoio, mas não de cura. E a última informação que vejo por aí é a de que o transtorno só pode existir em homens.
Apesar de fortemente divulgadas, estas informações são falsas e nós devemos estar atentos ao discurso falacioso compartilhado por pessoas que são leigas no assunto, sempre preferindo procurar especialistas e profissionais para atender à sua família. E sempre lembrar que cada criança é única e habita seu próprio universo, não cabendo a comparação às outras crianças que se encontram no espectro.
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Conte comigo com a Tia Paulinha!
No mais, esta caminhada não precisa ser isolada, ou acontecer “no escuro”, a rede de apoio do seu pequeno também está disponível para ajudar os pais e familiares neste árduo processo de melhora, de adaptação e de busca pelo melhor para o desenvolvimento de cada criança. Além do meu blog, me faço disponível pelas minhas redes (TikTok, Instagram, e YouTube) para tirar dúvidas e trazer cada vez mais informações pertinentes de forma didática!