É muito provável que você já tenha ouvido falar na flexibilidade cognitiva, que é uma função executiva responsável pela criatividade do indivíduo, além da capacidade de solucionar problemas de maneiras diferentes e adequar rotinas e tarefas ao que as circunstâncias pedem. Acontece que, nas pessoas com Transtorno do Espectro Austista, muitas vezes essa função apresenta alguns déficits. O que fazer, então, para diminuir a rigidez cognitiva no autismo?
O que é a rigidez cognitiva no autismo?
Antes de entender como trabalhar e aprimorar a flexibilidade cognitiva nas pessoas com TEA, é importante entender primeiro o que é a rigidez cognitiva no autismo. Esse aspecto cognitivo é um dos fatores que influenciam o diagnóstico do TEA e é o responsável pelos comportamentos repetitivos, apego excessivo à rotina, interesse obsessivo em algum assunto ou brinquedo, entre outros comportamentos que demonstram a falta de capacidade de mudança e adaptação.
Pessoas com o pensamento rígido, muitas vezes, têm dificuldade em aceitar a visão e pensamentos de outras pessoas e podem ficar extremamente angustiadas quando algo acontece diferente do esperado ou planejado, quando a rotina muda, por exemplo, e, no caso de crianças, quando alguma brincadeira é interrompida ou termina diferente do que a criança estava acostumada.
É importante ressaltar que, no caso de pessoas com TEA, essa característica não é fruto de teimosia ou falta de educação. Ainda que esses traços levem a muitas condutas opositoras, a rigidez cognitiva no autismo não acontece por escolha da pessoa. É uma condição que afeta, em maior ou menor grau, a maioria das pessoas no espectro.
Por que pessoas no TEA têm rigidez cognitiva?
Existem algumas hipóteses que tentam explicar o que pode causar essas características nas pessoas com autismo. Uma dessas hipóteses aparece nesta pesquisa acadêmica, onde os autores apontam que os padrões que definem a rigidez cognitiva no autismo poderiam ser resultados de uma alteração no lobo frontal, que comanda as funções executivas do cérebro (controle do movimento voluntário, envolvido na atenção, memória de curto-prazo, motivação, planejamento e fala).
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Apesar disso, o mesmo estudo também aponta que pesquisas feitas com Ressonância Nuclear Magnética (RNM) no cérebro de autistas apontaram alterações no lobo frontal e em outras regiões do cérebro, mas não de forma consistente: nem todas as pessoas no TEA apresentam essas alterações. Ou seja, ainda não existe uma resposta definitiva para entender a rigidez cognitiva no autismo.
Como melhorar a rigidez cognitiva no autismo
Um dos principais métodos para aumentar a flexibilidade cognitiva das crianças com TEA é por meio da dessensibilização sistemática: expor a criança, gradualmente, a situações em que seja possível criar novas soluções para problemas ou brincadeiras, por exemplo. Essa estratégia vai ser mais efetiva se o psicólogo ou cuidador conseguir que a própria criança se engaje nos processos de mudança, e para isso é possível aproveitar dos interesses e motivações que ela já tem.
Outra abordagem que pode ser muito boa é explicar exatamente o porquê da importância de uma mudança. A rigidez cognitiva, muitas vezes, está conectada ao fato de que a pessoa no TEA pode ter dificuldade em analisar e compreender todas as informações do ambiente e das pessoas ao seu redor, por isso algumas regras se tornam tão importantes, pois constroem a base de sua convivência. Sendo assim, se os pais ou cuidadores da criança explicarem objetivamente e com todos os detalhes possíveis o motivo de uma mudança ser necessária ou benéfica para o pequeno, o trabalho todo fica mais fácil.
Podem usar também histórias sociais para ajudar a criança nesse trabalho de explicar o motivo da mudança.
Com as tarefas de casa e atividades cotidianas também dá para avançar bastante no trabalho da rigidez cognitiva no autismo. Os pais podem, por exemplo, sugerir que o filho troque a ordem de algumas tarefas que realiza, como a hora de escovar os dentes ou tomar banho. Pedir sugestões ao pequeno sobre o que poderiam comer no almoço ou na janta também ajuda ele a exercitar mais as possibilidades na mente.
Jogos podem ajudar
Com brincadeiras e jogos também é possível criar melhorar a rigidez cognitiva no autismo. Brincadeiras que estimulem o uso da imaginação, além de jogos nos quais seja possível alterar as regras (pode ser que a criança apresente alguma resistência de início, mas perceber que é possível fazer a mesma coisa de jeitos diferentes é um passo muito importante para aumentar a flexibilidade cognitiva).
Por fim, é uma boa ideia também criar seus próprios jogos imaginativos, como por exemplo pegar um objeto comum e ver quantas outras coisas a criança pode fingir que aquilo é: fingir que uma régua é uma espada ou uma pequena ponte, um rolo de cartolina é uma luneta, e por aí vai.
Flexibilidade cognitiva
Falamos algumas vezes da flexibilidade cognitiva em oposição à rigidez cognitiva, mas pode ser importante deixar claro as características de uma mente realmente flexível, até para que pais e cuidadores tenham em vista qual o objetivo devem mirar quando trabalham a rigidez cognitiva no autismo.
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A flexibilidade cognitiva é basicamente a capacidade para adaptar os pensamentos às circunstâncias. Criar novas estratégias para resolver problemas de maneiras diferentes, saber como lidar com pessoas de acordo com o ambiente social e suas hierarquias e até mesmo reconhecer sarcasmo e ironia no que os outros dizem são algumas das capacidades de uma pessoa com flexibilidade cognitiva.
São todos aspectos bem importantes e necessários para um bom convívio social e também para diminuir o estresse e ansiedade da pessoa que tem essa capacidade, já que a cognição rígida coloca o indivíduo em muitas circunstâncias em que ele não vai entender o que está acontecendo e vai se sentir muito inseguro e amedrontado quando perceber que as velhas regras nas quais confia não estão ajudando naquele momento.
Por isso, a flexibilização cognitiva é o objetivo quando estamos lidando com a rigidez cognitiva no autismo. Aos poucos, com trabalho constante e perseverante, é possível “relaxar” os padrões de pensamento das pessoas no TEA, e isso vai ser de grande ajuda não só para os que convivem com ele, mas para o próprio indivíduo.
Entenda mais sobre esse grandioso universo do TEA
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