Psicologia do brincar: estratégias para aplicar no atendimento infantil
Psicologia do brincar: estratégias para aplicar no atendimento infantil

A infância é uma fase fundamental para o desenvolvimento humano, marcada por intensa atividade lúdica. Para a criança, brincar não é apenas um passatempo: é uma forma essencial de explorar o mundo, expressar emoções, desenvolver habilidades cognitivas e sociais, além de elaborar vivências internas. Nesse contexto, a psicologia do brincar surge como uma abordagem clínica valiosa para compreender e intervir nas demandas emocionais e comportamentais da criança.

Muito mais do que uma técnica terapêutica, a psicologia do brincar é uma lente através da qual o psicólogo observa e interpreta o universo simbólico da criança. Ao reconhecer o brincar como linguagem natural da infância, o profissional estabelece um canal privilegiado de comunicação, por meio do qual pode acessar conteúdos inconscientes, avaliar o desenvolvimento emocional e promover intervenções eficazes.

O que é psicologia do brincar?

A psicologia do brincar é um campo da psicologia que estuda o papel do brincar no desenvolvimento infantil e nas práticas clínicas com crianças. Ela considera o ato de brincar como uma atividade espontânea, simbólica e estruturante, que permite à criança experimentar papéis, expressar sentimentos, resolver conflitos internos e construir significado sobre suas experiências.

Inspirada em teorias psicanalíticas, humanistas e desenvolvimentistas, essa abordagem reconhece o brincar como um instrumento de comunicação e autoconhecimento. Autores como Donald Winnicott, Melanie Klein, Jean Piaget e Lev Vygotsky contribuíram significativamente para a compreensão da importância do brincar no processo terapêutico e educativo.

Winnicott, por exemplo, via o brincar como uma forma intermediária entre a realidade interna e o mundo externo. Para ele, o brincar ocorria em um “espaço potencial”, onde a criança podia se expressar com segurança e criar significados a partir de suas experiências. Já Piaget e Vygotsky destacaram o brincar como um mediador no desenvolvimento cognitivo e social.

Por que o brincar é tão importante no atendimento infantil?

As crianças, especialmente as mais novas, ainda não dominam a linguagem verbal para expressar emoções, traumas ou conflitos de forma clara e consciente. Por isso, utilizam o brincar como forma de comunicação simbólica. O que parece um simples faz-de-conta, muitas vezes representa conflitos familiares, medos, desejos, frustrações e experiências reais que a criança ainda não consegue elaborar racionalmente.

No contexto clínico, o brincar permite que o terapeuta acesse essas manifestações simbólicas sem invadir o espaço emocional da criança. Assim, é possível construir uma relação terapêutica segura, baseada na empatia, confiança e respeito ao tempo e à linguagem da infância.

Além disso, o brincar favorece o desenvolvimento de habilidades sociais, cognitivas e emocionais. Através do jogo, a criança aprende a negociar, a esperar a sua vez, a lidar com regras e frustrações, a desenvolver a empatia e a experimentar diferentes papéis sociais. Em resumo, o brincar é terapêutico por si só.

Psicologia do brincar: estratégias para aplicar no atendimento infantil

A estrutura do setting lúdico-terapêutico

O espaço terapêutico deve ser cuidadosamente planejado para favorecer o brincar. O setting precisa ser acolhedor, seguro e convidativo, com materiais organizados de forma acessível para que a criança possa escolher o que deseja explorar. É importante oferecer uma variedade de brinquedos e recursos simbólicos, como:

  • Fantoche e bonecos;
  • Massinhas e argila;
  • Casinha, cozinha, ferramentas;
  • Animais de brinquedo;
  • Instrumentos musicais;
  • Jogos simbólicos (médico, bombeiro, escola, etc.);
  • Lousa, lápis de cor, papel e tintas;
  • Blocos de montar e quebra-cabeças;
  • Caixa de areia ou tapete sensorial.

O terapeuta deve estar presente de forma acolhedora, sem forçar interações, respeitando o ritmo da criança e oferecendo espaço para que ela conduza o processo lúdico. A observação atenta do que é trazido no brincar — personagens, enredos, emoções, repetições — é fundamental para a compreensão clínica.

Estratégias para aplicar a psicologia do brincar no atendimento

A seguir, são apresentadas estratégias práticas que podem ser utilizadas por psicólogos infantis que desejam aplicar os princípios da psicologia do brincar no contexto clínico:

1. Brincar livre com observação clínica

Essa é uma das formas mais naturais de acessar o mundo interno da criança. Durante o brincar livre, a criança escolhe os brinquedos e conduz a brincadeira como desejar. O terapeuta observa sem interferir, tomando nota dos temas simbólicos que emergem, padrões repetitivos, intensidade emocional, papéis atribuídos aos personagens e as narrativas construídas.

Essa observação pode revelar aspectos importantes da dinâmica familiar, conflitos inconscientes, medos e necessidades afetivas da criança.

2. Brincar dirigido com objetivos terapêuticos

Em algumas situações, o terapeuta pode propor atividades lúdicas com objetivos específicos, como trabalhar autoestima, desenvolver habilidades sociais ou lidar com perdas e mudanças. Jogos colaborativos, construção de histórias, dramatizações e desafios lúdicos podem ser adaptados para atender às demandas do processo terapêutico.

Por exemplo, em casos de crianças com dificuldade em nomear emoções, o terapeuta pode utilizar cartas ilustradas com expressões faciais para estimular a identificação e verbalização de sentimentos.

3. Caixa de histórias

A caixa de histórias é uma ferramenta criativa da psicologia do brincar. Nela, o terapeuta disponibiliza diferentes objetos simbólicos (personagens, cenários, objetos diversos) para que a criança crie uma história. O enredo criado geralmente reflete questões internas, permitindo ao terapeuta interpretar e dialogar com os conteúdos apresentados.

A criança pode criar um final alternativo, modificar papéis ou explorar soluções, promovendo a elaboração simbólica de suas vivências.

4. Teatro de fantoches

Os fantoches permitem que a criança projete emoções em personagens, facilitando a expressão de sentimentos difíceis de serem ditos diretamente. Situações como brigas familiares, medo, ciúmes ou conflitos escolares podem ser encenadas de forma simbólica e segura, permitindo ao terapeuta intervir e dialogar com empatia.

5. Jogos terapêuticos estruturados

Além dos jogos simbólicos, jogos com regras (como dominó emocional, jogos da memória afetiva, tabuleiros com perguntas reflexivas) podem ser usados para desenvolver habilidades como autorregulação, empatia, resolução de conflitos e expressão emocional.

Esses jogos são especialmente úteis com crianças maiores, que já possuem mais recursos verbais e cognitivos.

6. Arte-terapia lúdica

O uso de desenhos, colagens, esculturas com massinha ou pintura pode ser integrado à psicologia do brincar como forma de expressão simbólica. Muitas crianças conseguem expressar com mais facilidade seus sentimentos e vivências por meio da arte, sem a necessidade de verbalizar diretamente.

O terapeuta pode pedir que a criança desenhe “um dia feliz”, “um problema que gostaria de resolver” ou “uma casa segura”, por exemplo. O conteúdo produzido pode ser interpretado e explorado durante a sessão.

7. Jogos de papéis e dramatização

Incentivar a criança a assumir papéis diferentes (como ser o pai, o médico, o monstro, o super-herói) permite explorar conflitos, testar novas formas de agir e vivenciar situações imaginárias com potencial transformador. A dramatização também contribui para o fortalecimento da autoestima e o desenvolvimento da empatia.

Psicologia do brincar: estratégias para aplicar no atendimento infantil

A escuta do terapeuta no brincar

Aplicar a psicologia do brincar no atendimento infantil exige uma escuta diferenciada. O terapeuta deve ser capaz de interpretar os significados simbólicos presentes no ato de brincar, sem cair na armadilha da racionalização excessiva ou da pressa em intervir.

Muitas vezes, é no silêncio da criança, na escolha de um brinquedo, na repetição de uma cena ou no tom emocional da brincadeira que se revela um conteúdo valioso para a compreensão clínica. O terapeuta deve estar presente de forma acolhedora e aberta, sem julgamento, oferecendo à criança a possibilidade de elaborar seu mundo interno com liberdade.

Quando o brincar revela sofrimento

Nem todo brincar é leve ou divertido. Em muitos casos, a criança traz conteúdos dolorosos em suas brincadeiras: enredos com perdas, mortes, violência, rejeição, abandono. Essas narrativas simbólicas devem ser acolhidas com sensibilidade. Elas representam tentativas da criança de lidar com experiências difíceis, dar sentido ao sofrimento e buscar segurança emocional.

Ao aplicar os princípios da psicologia do brincar, o terapeuta não busca “consertar” ou evitar esse tipo de conteúdo, mas sim estar junto da criança em sua dor, ajudando-a a ressignificar essas vivências e desenvolver novos recursos para enfrentá-las.

O papel da família na psicologia do brincar

O trabalho terapêutico infantil, mesmo quando centrado no brincar, não se restringe à criança. É fundamental envolver os pais ou cuidadores no processo, oferecendo devolutivas periódicas, orientações e apoio emocional. Muitas vezes, os comportamentos da criança refletem dinâmicas familiares que precisam ser compreendidas e transformadas.

A psicologia do brincar também pode ser levada para o ambiente familiar. Os pais podem ser incentivados a brincar mais com seus filhos, a escutar suas histórias e a validar seus sentimentos durante o jogo. Isso fortalece o vínculo afetivo e contribui para um ambiente emocionalmente mais seguro.

Conclusão: brincar é coisa séria

A psicologia do brincar nos convida a resgatar o valor profundo do brincar como linguagem essencial da infância. Em um mundo cada vez mais acelerado e repleto de exigências, oferecer espaço para que a criança possa brincar, ser ouvida e respeitada é um ato terapêutico em si.

O psicólogo infantil, ao compreender e aplicar as estratégias dessa abordagem, transforma o setting clínico em um espaço de criação, expressão e cura. O brincar, nesse contexto, não é apenas uma ferramenta diagnóstica ou técnica de intervenção — é o próprio território onde o mundo interno da criança se revela e se transforma.

Assim, a psicologia do brincar representa uma ponte entre o universo infantil e a escuta terapêutica, permitindo que a criança seja protagonista de sua própria jornada emocional. Cabe ao terapeuta estar presente com empatia, sensibilidade e escuta ativa, reconhecendo que, por trás de cada brincadeira, há uma história a ser contada — e, muitas vezes, uma dor a ser acolhida.

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