A psicologia infantil é um campo sensível, que exige escuta atenta, empatia e estratégias adequadas para cada fase do desenvolvimento da criança. Com o avanço das tecnologias e as mudanças trazidas especialmente pela pandemia, a prática clínica se viu diante de um novo cenário: o atendimento psicológico remoto. Surgiu, então, a necessidade de compreender como oferecer terapia infantil online de forma eficaz, sem perder a qualidade do vínculo terapêutico, tão essencial nesse processo.
Embora o atendimento presencial ainda seja preferido por muitos profissionais e famílias, a terapia infantil online se consolidou como uma alternativa viável, acessível e segura, especialmente para crianças que vivem em regiões remotas, que têm mobilidade reduzida ou cujas famílias enfrentam restrições de tempo e deslocamento. No entanto, adaptar esse modelo exige muito mais do que simplesmente migrar o consultório para uma tela. É preciso reinventar práticas, revisar técnicas e compreender como manter o vínculo com os pequenos em um ambiente digital.
Neste artigo, vamos explorar como estruturar a terapia infantil online, adaptar estratégias para esse formato e, principalmente, como garantir a construção e manutenção de um vínculo terapêutico efetivo — mesmo diante das limitações do espaço virtual.
1. A importância do vínculo na terapia infantil
A base da psicoterapia com crianças é o vínculo. Antes mesmo das intervenções técnicas, é essa relação de confiança, acolhimento e segurança que permite que a criança se expresse, se sinta vista e compreendida. No atendimento presencial, muitos recursos são utilizados para fortalecer esse laço: a presença física, o tom de voz próximo, os brinquedos, o olhar atento, os gestos, o ambiente lúdico.
Na terapia infantil online, esse processo precisa ser adaptado, pois o canal de comunicação sofre interferências. A tela impõe uma distância física, e há desafios adicionais como distrações no ambiente da criança, instabilidades na conexão e menor controle do terapeuta sobre o espaço terapêutico.
Portanto, manter o vínculo na terapia infantil online exige ainda mais intencionalidade, criatividade e presença por parte do profissional.
2. Preparando o ambiente: da estrutura ao vínculo
Um dos primeiros passos para uma boa terapia infantil online é garantir um ambiente virtual estruturado e seguro. Isso inclui:
- Estabilidade na conexão: garantir uma boa internet para evitar interrupções.
- Privacidade: orientar os responsáveis sobre a importância de um espaço reservado para a criança durante a sessão.
- Recursos tecnológicos: uso de plataformas seguras, câmera e microfone de boa qualidade.
- Orientações aos pais: alinhar expectativas e solicitar apoio, quando necessário, principalmente no início da adaptação.
O ambiente físico onde a criança está também impacta a qualidade do vínculo. Se ela está em um local barulhento, com outras pessoas passando ou com muitos estímulos, pode se dispersar com facilidade. Por isso, envolver a família nesse cuidado é fundamental.

3. Estratégias para criar vínculo na terapia infantil online
Criar vínculo com crianças pelo computador pode parecer desafiador à primeira vista, mas é plenamente possível com o uso de estratégias adequadas. Veja algumas:
a) Adote um tom acolhedor e acessível
O tom de voz na terapia infantil online deve ser caloroso, afetivo e bem articulado. Como a criança não está fisicamente presente, a voz se torna um canal ainda mais importante para transmitir segurança e empatia.
b) Utilize recursos visuais
Imagens, jogos online, livros ilustrados, fantoches, vídeos curtos e até desenhos compartilhados pela tela podem facilitar a interação e criar momentos lúdicos. A criança se sente mais conectada quando o terapeuta entra em seu universo simbólico.
c) Estimule a participação ativa
Permitir que a criança “ensine” ao terapeuta algo, mostre brinquedos que tem em casa ou compartilhe seus interesses ajuda a promover uma troca genuína. Na terapia infantil online, incluir elementos do cotidiano da criança pode fortalecer o vínculo.
d) Respeite o tempo da criança
Algumas crianças vão se adaptar rapidamente à nova forma de atendimento, enquanto outras precisarão de mais tempo. Não há pressa. O vínculo se constrói com constância, escuta e acolhimento, mesmo que no início haja mais silêncio ou resistência.
4. Brincar no online: é possível?
Sim, e é fundamental! O brincar é a principal linguagem da criança. Ele está presente em todas as fases do desenvolvimento infantil e é, muitas vezes, o caminho para acessar emoções, traumas e vivências internas.
Na terapia infantil online, brincar continua sendo possível — com adaptações. A seguir, alguns formatos que têm funcionado bem:
- Jogos digitais interativos: tabuleiros online, quebra-cabeças, jogos cooperativos.
- Histórias construídas em conjunto: a criança começa a narrativa e o terapeuta continua, e vice-versa.
- Desenho virtual ou manual: compartilhar a tela para desenhar junto ou pedir para a criança desenhar e mostrar à câmera.
- Caixa de areia simbólica online: alguns aplicativos simulam o recurso terapêutico da areia.
- Brincadeiras simbólicas com objetos da casa: a criança pode usar bonecos, carrinhos, bichinhos de pelúcia, etc.
O terapeuta deve manter a postura clínica, mesmo em contextos lúdicos. Brincar é divertido, mas também é um canal de expressão emocional. A escuta atenta e a interpretação simbólica continuam presentes.
5. Envolvendo a família no processo
A participação dos pais ou responsáveis é ainda mais relevante na terapia infantil online, pois eles frequentemente assumem o papel de facilitadores do processo. São eles que preparam o ambiente, garantem a regularidade dos encontros e, muitas vezes, auxiliam na continuidade das atividades entre as sessões.

Além disso, o terapeuta pode realizar atendimentos pontuais com os pais para orientá-los, alinhar expectativas e compartilhar estratégias de manejo para o dia a dia da criança. Essa integração fortalece o vínculo terapêutico como um todo e potencializa os efeitos da intervenção.
6. Desafios comuns e como superá-los
Como toda modalidade de atendimento, a terapia infantil online traz desafios que precisam ser enfrentados com ética, criatividade e flexibilidade. Entre os principais, destacam-se:
a) Distrações no ambiente
Muitos estímulos ao redor da criança podem dificultar sua concentração. A orientação prévia à família é essencial: celular em modo silencioso, TV desligada, irmãos em outro cômodo, e um local confortável e tranquilo.
b) Dificuldade de engajamento
Algumas crianças podem sentir dificuldade para se conectar com o terapeuta através da tela. Nesses casos, vale adaptar a linguagem, utilizar mais recursos visuais, e até reduzir um pouco o tempo da sessão até que a criança se sinta mais à vontade.
c) Barreiras tecnológicas
Nem todas as famílias têm acesso a uma boa internet ou a dispositivos adequados. Em casos assim, o profissional pode flexibilizar o formato, usar chamadas de vídeo mais leves (como WhatsApp) ou, se necessário, alternar com atendimentos presenciais quando possível.
7. A ética na terapia infantil online
O atendimento psicológico online é regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia, que estabelece critérios éticos para sua realização. No caso da terapia infantil online, alguns cuidados são ainda mais importantes:
- Consentimento dos responsáveis: é obrigatório que os pais ou responsáveis legais autorizem formalmente o atendimento da criança.
- Sigilo e privacidade: o profissional deve garantir que as sessões sejam realizadas em plataformas seguras e orientar a família a manter o sigilo das sessões em casa.
- Registro de atendimentos: manter prontuários, relatórios e evoluções clínicas como em qualquer outro tipo de atendimento.
Cumprir esses critérios não apenas protege o profissional e a criança, como também reforça a credibilidade da terapia infantil online como uma prática segura e responsável.
8. A supervisão como suporte ao terapeuta
A adaptação ao online pode gerar insegurança para muitos profissionais, especialmente no início. Por isso, buscar supervisão clínica com psicólogos mais experientes nesse formato é altamente recomendável. A troca de experiências, a reflexão sobre casos e o apoio técnico ajudam a desenvolver mais confiança e competência.
A supervisão também é um espaço importante para refletir sobre o vínculo na terapia infantil online: como ele se forma, que sinais observar, o que fazer diante de resistências ou rupturas.
9. Benefícios da terapia infantil online
Apesar dos desafios, a terapia infantil online tem mostrado muitos benefícios quando bem conduzida:
- Maior acessibilidade: crianças de cidades pequenas ou áreas remotas podem receber atendimento especializado.
- Flexibilidade de horários: facilita a organização da rotina familiar.
- Continuidade terapêutica: mesmo em casos de mudanças de cidade, pandemia ou viagens, a terapia pode continuar.
- Empoderamento da criança no ambiente dela: muitas se sentem mais seguras ao falar de suas questões dentro de casa.
Essas vantagens têm contribuído para a consolidação da modalidade como parte legítima e valiosa da atuação clínica.
Conclusão
A terapia infantil online é uma realidade que veio para ficar. Embora não substitua completamente o atendimento presencial, ela oferece uma alternativa eficaz e segura para crianças e famílias em diferentes contextos. O segredo está na adaptação cuidadosa, no uso criativo dos recursos disponíveis e, principalmente, na manutenção de um vínculo terapêutico profundo, mesmo à distância.
Para isso, o profissional precisa se reinventar constantemente, estar aberto ao novo e manter seu compromisso com a ética e o cuidado. A criança, mesmo pela tela, continua a nos mostrar caminhos de escuta, presença e transformação. Cabe a nós, terapeutas, acompanhar esses caminhos com sensibilidade, técnica e afeto.
Ao investir na formação específica, supervisionar sua prática, envolver as famílias e adotar recursos lúdicos adaptados, o psicólogo infantil pode exercer com excelência seu trabalho na modalidade online, ampliando horizontes e oferecendo acolhimento de qualidade onde quer que a criança esteja.
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