Existe um debate muito grande em relação ao uso de telas pelas crianças, como computadores, televisões e, principalmente, celulares. Essa discussão é ainda mais importante e intensa quando se trata do uso de telas e autismo.
Naturalmente, por conta dos déficits e diferenças que uma criança autista possui, as interações, inclusive com esses aparelhos, não é a mesma do que uma criança que não está dentro do TEA ( Transtorno do Espectro Autista).
Por isso, entender se é interessante deixar que as crianças autistas utilizem as telas, seja de forma controlada ou de forma livre, é muito importante.
As crianças autistas possuem uma forma de compreender e sentir o mundo que é diferente de uma criança neurotípica. E como os programas, aplicativos, jogos, filmes e desenhos que passam nas telas exploram diversos comportamentos e sentimentos, é preciso verificar se essa permissão do uso de telas e autismo é uma boa ideia.
Meu filho autista pode usar telas?
Não existe nenhuma recomendação exclusiva que isole o uso de telas e autismo. Claro, assim como o uso dessas tecnologias individuais deve ser controlado mesmo em crianças que não são autistas. Portanto, para crianças autistas ou não, a recomendação é a mesma.
Entretanto, existem especialistas, psicólogos e médicos que falam sobre essa questão e apontam que, muitas vezes, o uso da tecnologia de maneira controlada pode ser um ótimo aliado no aprendizado de crianças autistas.
É notório que, por conta da condição existente nas crianças autistas, que podem ter níveis e graus mais simples ou graves, os autistas possuem uma certa dificuldade social, principalmente em relação a comunicação e a linguagem.
Dessa maneira, como apontam o Dr. Marcelo Masruha e a psicóloga Joice Andrade, em entrevista para o blog Jade, essas tecnologias, como celulares, computadores e tablets, podem servir como uma ótima “ferramenta de conexão entre crianças autistas e outras crianças”.
Além disso, existem diversos softwares e aplicativos de celulares que foram criados exclusivamente para crianças autistas, como aplicativo de jogos, de vídeos interativos e outras soluções criativas para trabalhar a socialização e a comunicação, tornando a ideia do uso de telas e autismo mais viável.
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Apesar disso, é sempre bom reforçar que existem diversas recomendações para o controle relacionado ao uso das telas e autismo e também para crianças neurotípicas, independente se ela possui o TEA ou não, inclusive da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) que veremos mais a fundo a seguir.
Explicando as normas da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria)
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é considerada a maior instituição médica e especializada no Brasil, debatendo procedimentos, tratamentos, cuidados e recomendações que é necessário passar para as crianças.
Entre essas questões, a SBP divulgou recentemente um manual repleto de normas e recomendações que debatem o uso de telas e outras tecnologias para as crianças, justamente pelo aumento de pedidos de pessoas que alegam o crescimento de transtornos comportamentais nas crianças pelo uso excessivo dessas tecnologias.
Primeiramente, o manual de orientações aponta alguns dados importantes sobre o uso de telas pelas crianças e adolescentes, revelados pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Confira alguns dados:
- 86% das crianças e adolescentes brasileiros, entre 9 e 17 anos, estão conectados na internet;
- Esse número corresponde a 24,3 milhões de usuários da internet.
- Cerca de 20% dos participantes do levantamento relataram contato com conteúdos sensíveis sobre alimentação ou sono
- 16% com formas de machucar a si mesmo
- 14% com fontes que informam sobre modos de cometer suicídio;
- 11% com experiências com o uso de drogas.
- cerca de 26% foram tratados de forma ofensiva (discriminação ou cyberbullying);
- 16% relataram acesso às imagens ou vídeos de conteúdo sexual.
Depois, o manual passa a informar recomendações para os adultos, com relação a uso de telas e autismo e também em crianças que não possuem o TEA.
De acordo com o documento da SBP, as mídias digitais, como aplicativos de vídeos, televisão, sites de jogos, entre outros, preenchem alguns vazios nas crianças, como o ócio, tédio, abandono efetivo ou a ocupação excessiva dos pais em outras áreas.
Entretanto, o acesso excessivo a essas mídias, ou o acesso a conteúdos impróprios, tem gerado mudanças comportamentais nas crianças bastante visíveis, e vem gerando desconforto dentro da sociedade. Justamente por isso que o documento estipula algumas recomendações relacionadas a esse uso, prezando pelo controle do excesso.
Primeiramente, existe a recomendação do uso de telas e autismo ou em crianças que não possuem o TEA por idade, ou seja, as recomendações são direcionadas para diversas faixas etárias. Confira:
- de 0 a 18 meses: não deve ter contato com telas;
- De 2 a 5 anos: é recomendado o uso de no máximo 1h por dia com supervisão;
- De 6 a 10 anos: sempre com supervisão, limitar o tempo de 1 ou 2 horas por dia;
- De 11 a 18 anos: com supervisão, limitar o uso de celulares, videogames ou televisão por 2 a 3 horas por dia.
- Nada de telas durante as refeições;
- Criar regras saudáveis para controlar o uso de aplicativos e outros dispositivos digitais;
- Denunciar conteúdos criminosos ou que podem gerar danos psicológicos para as crianças, como conteúdos sexuais, violência, abuso, entre outros.
A SBP ainda lançou um vídeo explicativo sobre esse assunto, você poderá assistir ao vídeo CLICANDO AQUI
O que acontece se meu filho usar tela demais?
De acordo com o manual da SBP, as experiências geradas nas crianças e adolescentes por conta do uso de telas, principalmente em conteúdos violentos, jogos que exploram a violência, entre outros, podem ter impactos importantes na questão do comportamento dessas pessoas durante a vida adulta, e por isso precisam ser controladas.
Entre esses impactos, de acordo com o manual, podem estar:
- Transtornos de sono;
- Transtornos de déficit de atenção;
- Hiperatividade;
- Dependência de uso digital;
- Sedentarismo;
- Transtornos da imagem corporal e da autoestima
- Comportamentos violentos;
- Problemas visuais;
- Entre outros.
Para saber mais sobre o restante das recomendações sobre o uso dessas mídias digitais pelas crianças e adolescentes, e também o uso de telas e autismo, acesse o link aqui e confira.
O manual da SBP não explica nenhuma situação diferente sobre uso de telas e autismo, ou seja, a recomendação é para todas as crianças.
O que você recomenda, Tia Paulinha?
Por ser uma sociedade bastante reconhecida e que trabalha ativamente e juntamente com a comunidade médica de mais renome no país, é importante que as pessoas sigam as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Como vimos, o uso em excesso de telas pode gerar danos bastante importantes nas pessoas, principalmente se o uso for incentivado desde muito cedo. Existem pesquisas que falam sobre o atraso no desenvolvimento infantil devido ao uso excessivo de telas, porém não temos relação direta sobre uso de telas e autismo.
Leiam com atenção: atraso no desenvolvimento. Vamos deixar uma coisa bem clara com esse post: NÃO EXISTE AUTISMO VIRTUAL. Uma criança não se torna autista porque usou telas em excesso. Falaremos sobre isso logo abaixo no post.
É importante entender que, naturalmente, principalmente nesses últimos anos em que o mundo enfrenta uma pandemia de Coronavírus e a grande maioria das escolas estão fechadas, os pais acabam colocando seus filhos nas telas, seja em jogos ou para assistir algum desenho, como forma de ter um tempo de descanso.
Entretanto, é importante usar esse tempo de forma estratégica. Deixar as crianças utilizar celulares, tablets, computadores ou assistir televisão de forma livre, sem supervisão e sem um limite de tempo não é recomendado, pois podem gerar o vício e transtorno comportamental prejudiciais.
A estratégia é utilizar essas tecnologias em períodos específicos, como quando os pais precisam de um curto descanso, precisam cuidar dos afazeres da casa, ou estão resolvendo algum assunto importante. Apesar disso, é importante usar isso como último plano, já que interagir e brincar com as crianças deve ser sempre prioridade.
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Porém, sabemos que em tempos de crianças sem escola pode ser desafiador encontrar atividades e brincadeiras o tempo todo com supervisão para elas, então as telas acabam entrando como um recurso.
E o que fazer então? Escolher opções mais interessantes de estímulos nas telas, não somente vídeos e filmes sem tanta função, ou desenhos com personagens que apresentam comportamentos inadequados.
Saiba sempre o que seu filho vê nas redes sociais, quem ele conversa, que tipos de jogos joga… infelizmente temos pessoas mal intencionadas na internet e não queremos que nossos filhos passem por essas experiências.
Autismo virtual, autismo de tela, isso existe?
Em tempo de pandemia, em que naturalmente o uso de telas e autismo, ou a utilização de tecnologias em crianças e adolescentes de modo geral cresceu pela ausência das escolas e interação entre as crianças, o debate em relação ao possível “autismo virtual” cresceu consideravelmente.
Precisamos deixar claro que autismo virtual não existe. Os estudos sobre a causa do autismo envolvem genética e epigenética, nenhum estudo aborda a questão do excesso de telas no autismo. Não temos nada relacionado à diagnóstico de autismo pelo uso de telas e autismo.
Mas porque existe o debate em relação ao “autismo virtual”? Bom, alguns estudos recentes tentaram propor que o uso excessivo de telas pode gerar essa condição de “autismo virtual”, que seria um autismo causado pelo excesso de tempo em frente às telas, apresentando comportamentos ditos “autísticos”. Existem pessoas comentando sobre o uso de telas e autismo terem relação com os atrasos no desenvolvimento e o aumento de diagnósticos, porém, não tem relação.
O que realmente pode ocorrer em uma situação dessas, é um atraso no desenvolvimento da criança. Esse atraso pode acontecer pela falta de estímulos, ou seja, pais que não estimulam seus filhos e deixam eles sem interação social, apenas na TV e celular.
Se uma criança não recebe o estímulo dos pais, ou de outras pessoas que fazem parte da sua criação, ficando a maioria do tempo em frente às telas, é natural que ela absorva apenas aquilo que ela vê, e isso passa a ser sua visão de mundo.
“De acordo com uma pesquisa realizada pelo Hospital para Crianças Doentes da Universidade de Toronto, no Canadá, 30 minutos de uso diário desses aparelhos aumenta em 49% as chances de atraso no desenvolvimento da fala de bebês. Para os pediatras, o dado é preocupante e acende um alerta.” Fonte
“Outro estudo realizado por uma companhia de tecnologia infantil, SuperAwesome, concluiu que crianças de 6 a 12 anos, nos EUA, estão passando ao menos 50% do seu tempo mexendo em telas diariamente durante a quarentena do novo vírus.” Fonte
Além disso, gera um ciclo vicioso, onde elas passam a ter uma necessidade de estar imersas nesses conteúdos, que podem ser jogos, desenhos, programas televisivos, entre outras coisas.
Agora você já sabe que uso de telas e autismo não tem relação com o aumento dos diagnósticos de autismo. E que não existe autismo virtual.
Conclusão
É muito importante o debate relacionado ao uso de telas, computadores, videogames, principalmente para debater os riscos e os danos que o uso excessivo pode gerar em crianças e adolescentes, tanto em crianças autistas como nas que não possuem o TEA. Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Pediatria elaborou, recentemente, um manual com recomendações sobre o controle ao uso de telas, e é importante que essas recomendações sejam observadas e seguidas sempre que for possível.
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