No universo da psicoterapia infantil, é extremamente comum que os novos profissionais apresentem uma certa insegurança quanto à realização do primeiro atendimento com o paciente. Na realidade, não teria como ser diferente, afinal, lidar com crianças pode ser um desafio, principalmente se tratando de um contexto clínico. Aqui, vou amenizar essas possíveis inseguranças, fornecendo ferramentas importantes para você que é iniciante na área, que trarão uma maior clareza quanto aos reais objetivos do primeiro atendimento.
Primeiro, é essencial destacar que nunca se deve discutir sobre o quadro de um paciente infantil em sua frente, como se ele não estivesse fazendo parte da conversa, mesmo nos casos em que seus próprios pais acreditem que a criança não é capaz de compreender o conteúdo do que se está sendo discutido.
É de extrema importância que você, na condição de profissional, entenda que o paciente pode sim, mesmo que sem verbalizar palavra alguma, compreender ao menos em partes, o conteúdo do que se está sendo discutido. Esta percepção prévia pode causar no paciente uma sensação de impotência e desconforto que será muito prejudicial no desenrolar de seu processo psicoterapêutico.
Entendemos que muitas vezes os tutores não possuem uma rede de apoio sólida, que os permitam participar do primeiro atendimento presencialmente, sem a presença da criança. Nesses casos, uma alternativa seria a realização de uma sessão telepresencial online, onde os tutores consigam, de suas casas, alocar a criança em um cômodo diverso, a fim de evitar que a mesma ouça o que está sendo discutido.
Primeiro atendimento com os pais
Conforme discutido anteriormente, não se deve discutir o quadro do paciente infantil na presença dos mesmos, logo, é recomendado que o primeiro atendimento seja realizado exclusivamente com os pais. Para que possam ser obtidas informações mais objetivas e técnicas quanto ao caso e a família em si, como: questões burocráticas sobre a família, nome completo dos membros, endereço, CPF, e-mail, etc. Tais informações serão essenciais para a realização do cadastro do paciente e futuras emissões de notas aos pais.
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Outro processo extremamente importante neste primeiro momento é a realização da Anamnese, que consiste em uma entrevista completa e detalhada realizada com os pais, a fim de entender sua percepção em relação às queixas e possíveis quadros psicológicos de seus filhos. Durante essa entrevista, você deve fazer todas as perguntas que julgar necessárias para a total compreensão do quadro específico da criança. Também é recomendado que já se firme um contrato de trabalho, que será essencial para resguardar tanto os seus próprios interesses, quanto os dos pais e o do paciente.
Outro aspecto que deve ser levado em conta nesse primeiro atendimento com os pais é o suporte emocional que os mesmos possam necessitar. Em muitos casos, infelizmente, a psicoterapia infantil só é buscada em último caso, o que significa que, qualquer que seja a queixa que os pais tenham dos filhos quanto ao seu comportamento, este incômodo já atingiu o limite. Levando a família aos mais altos níveis de estresse, dessa forma, é essencial que você, na condição de psicoterapeuta, forneça a eles o suporte necessário para que consigam juntos auxiliar o desenvolvimento de seus filhos.
Para isso, é imprescindível que se escute atentamente as demandas dos mesmos, compreendendo e acolhendo suas dores. Entenda que o ambiente familiar é complexo e diverso, abrangendo muitas vezes não somente os pais como também irmãos, avós e outros. Só então será possível manter um nível de comunicação saudável, para que se possa explicar de forma clara, como será realizado o trabalho com o paciente infantil.
O que fazer na primeira sessão de atendimento infantil?
Após a conversa com os pais, hora de realizar o primeiro atendimento com a criança. Nesta primeira etapa, será importante que se construa um ambiente personalizado, baseado nas informações fornecidas pelos pais, para que se avalie a interação dos mesmos com a criança.
A partir de brincadeiras, desse modo, devem ser dispostos brinquedos e atividades que estimulem tais interações. A atuação do profissional psicoterapeuta neste momento será mínima, limitadas a observação e posterior anotação dos comportamentos relevantes de todos os membros da família.
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Reforçando que cada caso é um caso, assim como toda composição familiar é diferente, logo, os familiares presentes nesta primeira reunião interativa com a criança podem variar muito e isso é perfeitamente comum e esperado. Lembre-se de reforçar que devem comparecer o maior número possível de parentes que convivem com a criança.
Agora sim, finalmente chegou o momento de se iniciar os trabalhos diretamente com a criança. Se a mesma já se sente preparada para participar da sessão sozinha, isso pode e deve acontecer, caso contrário, ela será acompanhada pelo responsável até que se sinta preparada, você jamais deverá forçar um paciente infantil a participar de seu primeiro atendimento sozinho, quando ele não estiver pronto para isso.
A partir desse momento, deve-se buscar a formação do vínculo terapêutico entre o psicoterapeuta e o paciente infantil, para que se consiga realizar as avaliações de desenvolvimento, comportamento, habilidades sociais e qualquer que seja as demais demandas dos pais posteriormente.
Para realizar essas avaliações de forma técnica e padronizada, existem alguns testes internacionalmente reconhecidos, os mais eficientes são:
PEPR (também chamado no Brasil de Perfil Psicoeducacional Revisado): consiste em uma técnica avaliativa do desenvolvimento infantil muito indicada para pacientes que estejam sob suspeita de possuírem TEA (autismo), ou até mesmo outros transtornos neurológicos de maior relevância.
PROTEA-R: outra avaliação de autismo, indicada para crianças entre 24 e 60 meses de idade, que não consigam se comunicar de forma verbal, tal avaliação é realizada por meio da utilização de brincadeiras, de forma lúdica, a fim de identificar a presença ou não do transtorno do espectro autista no paciente.
Inventário Portage Operacionalizado: recomendado para crianças de 0 a 6 anos de idade, tal avaliação foca no desenvolvimento do paciente infantil, que será avaliado em 5 campos principais, quais sejam: socialização, cognição, linguagem, autocuidados e desenvolvimento motor.
ABC – denominada nacionalmente de Lista de Checagem de Comportamento Autístico: tem como finalidade avaliar, a partir da elaboração de 57 itens, com uma divisão comportamental previamente estipulada para cada um deles, se a criança possui condições que vão desde o autismo até o retardo mental.
Continue nessa jornada com a Tia Paulinha
Viu só como o primeiro atendimento não é um bicho de sete cabeças, quando se está preparado e munido das mais modernas técnicas de avaliação e condução de pacientes infantis?
É por este motivo que você, como profissional psicoterapeuta, deve se manter sempre atualizado. Para isso, conte com a Tia Paulinha! Eu disponibilizo as mais valiosas dicas e técnicas, tanto aqui no blog, como no canal do YouTube.
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