O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) são condições neuropsiquiátricas comuns, e cada uma com suas próprias características e demandas. Há, porém, diversas situações nas quais TDAH e TEA se entrelaçam e interagem, e é sobre elas que eu decidi falar um pouquinho.
É frequente observar uma sobreposição de sintomas entre os dois transtornos, levantando questões sobre a relação entre eles por parte de profissionais e familiares que convivem com pessoas que receberam o diagnóstico tanto de um quanto de outro.
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Vamos, então, juntos explorar quais as correlações entre TDAH e TEA, destacando as semelhanças e diferenças e como a compreensão dessas conexões pode influenciar abordagens de diagnóstico e intervenções psicológicas voltadas à infância.
Sintomas compartilhados?
TDAH e TEA são condições neuropsiquiátricas que, apesar de suas distinções, apresentam alguns sintomas compartilhados, ou seja, que estão presentes nos dois diagnósticos, criando uma sobreposição notável. Essas semelhanças muitas vezes desafiam os profissionais de saúde mental no processo de diagnóstico e destacam a complexidade na compreensão desses transtornos.
Em outras palavras, como uma criança manifesta os sintomas do transtorno não segue uma única linha ou possibilidade, exigindo análises profundas, com atenção e acompanhamentos de longos períodos em diferentes contextos, situações, ambientes e companhias.
Vamos, então, às características compartilhadas:
Desatenção:
Crianças com TDAH e TEA frequentemente lutam para manter a atenção em tarefas específicas. Os pequenos com TDAH são facilmente distraídos e podem parecer desinteressados em atividades que requerem concentração por períodos prolongados, principalmente em contextos com poucos estímulos.
Já aqueles diagnosticados com TEA têm a atenção associada a padrões de interesse restritos, nos quais ela é fortemente direcionada para áreas específicas, ignorando o que não está diretamente atrelado ao assunto.
Impulsividade:
Crianças com TDAH e TEA tendem a agir impulsivamente, sem considerar completamente as consequências de suas ações em função da noção de tempo “presa ao agora”. Para aqueles que convivem com TDAH, isso pode se manifestar em interrupções frequentes, respostas precipitadas e dificuldade em compreender acontecimentos e consequências que não são instantâneos.
Ao contrário das crianças com TEA, que podem exibir comportamentos impulsivos quando enfrentam situações desafiadoras ou desconfortáveis, ignorando as consequências e fatores externos à própria necessidade.
Dificuldades na interação social:
Embora o TDAH não seja considerado um transtorno social, podem haver dificuldades durante as interações e as crianças com essa condição podem enfrentar desafios devido à impulsividade e falta de atenção. Como esquecer detalhes durante conversas, aniversários, datas, acordos, entre outras questões que acabam por gerar conflitos.
Já para a criança com TEA, a dificuldade na interação social é uma característica central. Crianças com autismo podem apresentar dificuldades em compreender e responder adequadamente a pistas sociais, expressar emoções, desenvolver e manter amizades ou relacionamentos familiares.
Comportamentos Repetitivos:
Os comportamentos repetitivos não são uma característica proeminente do TDAH, porém podem estar presentes. Algumas crianças com TDAH podem manifestar comportamentos estereotipados, como mexer as pernas ou brincar com objetos durante momentos de inatividade para manterem-se ativos.
Os padrões de comportamento repetitivos são, para a psicologia, uma característica distintiva do TEA e servem como base para a autorregulação emocional. Em outras palavras, aparece em ambos, porém não da mesma forma. Isso pode incluir movimentos motores repetitivos, fixação em rotinas específicas e um apego inflexível a objetos ou atividades.
Comorbidades:
Pode ocorrer comorbidade entre TDAH e TEA, o que significa que uma criança pode ser diagnosticada com ambos os transtornos simultaneamente, o menos predominante enquanto comorbidade do outro.
A presença de sintomas de TDAH em crianças com TEA é relativamente comum, mas nem todas as crianças com TDAH têm traços autistas. Entender esses sintomas compartilhados destaca a complexidade de diferenciar TDAH e TEA, enfatizando a importância de uma avaliação clínica abrangente e individualizada, que considere as singularidades da criança para um diagnóstico preciso.
As correlações neuropsicológicas:
Estudos neurocientíficos realizados em pessoas com TDAH destacam alterações na região frontal do cérebro, associadas ao controle de impulsos e atenção, e pesquisas voltadas ao autismo indicam diferenças na conectividade neural e estrutura cerebral em áreas relacionadas ao processamento social e ao comportamento.
Estes dois pontos são extremamente importantes para compreender as distinções e semelhanças entre TDAH e TEA em termos de como o cérebro processa informações.
Acredita-se que o TDAH esteja relacionado a desequilíbrios nos neurotransmissores, especialmente dopamina e noradrenalina, que desempenham papéis cruciais na regulação da atenção, impulsividade e atividade motora.
As alterações nos neurotransmissores, incluindo serotonina e dopamina, também foram observadas em alguns estudos sobre o TEA, embora essas mudanças não sejam consistentes em todos os casos, não podendo ser associadas ao transtorno.
A sensibilidade sensorial é uma característica do TEA, com algumas crianças sendo hiper ou hipossensíveis a estímulos sensoriais das mais diversas naturezas. E algumas crianças com TDAH podem apresentar sensibilidade sensorial, porém ela não é uma característica inerente ao transtorno.
Existem déficits executivos do TDAH, como dificuldades no planejamento e na autorregulação. E desafios em funções executivas exclusivas do TEA, que contribuem para o que chamamos de padrões de comportamento repetitivos.
Identificar é um trabalho árduo!
Identificar se os sintomas são predominantemente atribuíveis ao TDAH, ao TEA ou a ambos pode ser complexo devido à sobreposição de características entre os dois. Profissionais de saúde mental utilizam critérios específicos e avaliações detalhadas para diferenciar os transtornos e considerar possíveis comorbidades ao elaborar um diagnóstico amplo e completo.
Embora haja sobreposição em alguns aspectos neuropsicológicos, é crucial reconhecer as diferenças essenciais entre TDAH e TEA para orientar intervenções e suporte eficazes para indivíduos afetados por esses transtornos. Por esta razão é extremamente importante buscar profissionais especialistas para a realização das análises diagnósticas.
Em última análise, enquanto TDAH e TEA são entidades diagnósticas distintas para a psicologia, suas correlações sugerem uma complexidade na interseção entre fatores genéticos, neurológicos e ambientais.
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A compreensão das nuances desses transtornos é crucial para proporcionar intervenções precisas e personalizadas. A pesquisa contínua nessa área é essencial para avançar no conhecimento e aprimorar as práticas clínicas, garantindo o melhor suporte possível para crianças que enfrentam esses desafios.
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